"No século XIX, ou seja, de 1800 até 1870, ocorria na Europa convulsões sociais.A unificação da Itália em 1870 reunia um povo de múltiplos dialetos. Não havia trabalho, abrigo e alimentos para todos. Representantes dos Estados Unidos, da Argentina e do Brasil, faziam a propaganda para encorajar a mão de obra a imigrar para seus países. O Brasil promovia toda essa propaganda porque, a escravidão do negro estava com os dias contados. Eram usados artifícios que alimentavam sonhos e ilusões de um paraíso nas terras distantes. Foi a única saída para sobreviver, não foi uma fuga, era necessário ter muita coragem para tomar a decisão de deixar a pátria. A primeira grande leva de imigrantes foi destinada às fazendas de lavoura de café no interior do estado paulista. Junto com os espanhóis, os italianos substituíram os negros nas plantações. Com promessa de lote de terra e bons salários, logo os imigrantes começaram a se decepcionar com a realidade que encontravam. Muitos partiram das fazendas para o centro da cidade e começaram a trabalhar nas fábricas e no comércio. A marca desse povo não ficou somente na economia. Os imigrantes italianos influenciaram fortemente os hábitos alimentares nas regiões em que se fixaram. O macarrão, a pizza e o vinho foram rapidamente assimilados e adotados pelo paulista.
Giovanni Barrichello e seus irmãos Giuseppe, Santo e Felício vieram para o Brasil, em 1885, dirigindo-se para a cidade de Rio das Pedras, após terem passado um período em Minas Gerais. A cidade de origem é Riese Pio X, região de Treviso, ao norte da Itália.
Giovanni Barrichello, teve os filhos: Luis, Eugênio, Jacob, Laura, Angelina, Santina e José. Jacob era o terceiro filho, com o apelido de “Cheu”, ou “Pio Cheu”, que queria dizer “o mais novo”, porque na família Barrichello aqui no Brasil já havia outro Jacob Barrichello que era mais velho. Para que não houvesse confusão com o mesmo nome é que ficou apelidado como “Pio Cheu”.
Ele era casado com Maria Marim Fernandes, que era irmã do Paco, outro morador de Rio das Pedras. Jacob teve os filhos: Alcides, Rubens, Wilson, Leonel e Laura. Rubens é o avô do Rubinho, corredor. O pai do Rubinho também se chama Rubens. Portanto, dizemos: Rubens (avô), Rubão (pai) e Rubinho (filho). Cheu morou em Rio das Pedras durante algum tempo. Ficou viúvo e resolveu ir com os filhos morar no Município de Santa Bárbara D’Oeste, e mais tarde resolveu mudar-se para São Paulo. (Depoimento da família).
Qual é o nome do completo do senhor?
Rubens Barrichello. Sou avô do Rubinho. Somos três Rubens! Meu nome é Rubens Barrichello, meu filho chama-se Rubens Barrichello Júnior, e o Rubinho é Rubens Barrichello.
O senhor nasceu em Rio das Pedras?
Sim, eu nasci em Rio das Pedras, hoje fui visitar a casa aonde nasci, que está inteira. Sai de Rio das Pedras muito cedo, muito novo ainda. Mas lembro-me, que no Moinho do Froner se levava 5 quilos de milho para retornar com 2 ou 3 quilos de fubá. Essa moenda existe até hoje. O meu pai era Jacob Barrichello, ele trabalhava na lavoura. Mudamos para Santa Bárbara D’Oeste, meu pai comprou um sítio aonde ele trabalhava na lavoura, e de lá em 1941 fomos para São Paulo. Morávamos na Rua do Gasômetro, praticamente no centro de São Paulo. Na época tinha ali a Estação do Norte, mais tarde denominada Estação Roosevelt. Tinha a famosa “porteira do Brás”, aonde o trem passava. Quantas vezes eu tive que esperar o trem passar para atravessar! Hoje existem viadutos. Até o bairro Belém era habitado, dali para frente era ocupado com plantação de caqui. Tinha muito caqui ali. Era pouco habitada essa área. Hoje lá é uma região maravilhosa, tenho uma irmã que mora no Tatuapé, aonde havia essa plantação de caqui!
Qual era a atividade do pai do senhor em São Paulo?
Após alguns meses que chegamos em São Paulo ele faleceu. Éramos em cinco irmãos. O mais velho, o Alcides, sempre teve muito contato com a família Barrichello em Rio das Pedras. Estou tendo um enorme prazer em estar recebendo esse tratamento especial, aqui em Rio das Pedras. Estou muito feliz por ter vindo visitá-los! Meu irmão chefiava a família e fomos em frente. Quando eu tinha uns 22 a 23 anos de idade comecei no comércio de madeiras, materiais para construção, e permaneci trabalhando nessa atividade até me aposentar. Eu tenho hoje (2006), 78 anos e seis meses! Há pouco tempo fui ao médico, ele disse-me: -Você tem a disposição do meu pai. Ele faleceu com 96 anos de idade. Você vai viver até os 96 anos com certeza! Logo depois tive que ir á outro médico, esse me disse: - Você está tão bem que irá viver até os 95 anos! Eu “briguei” com ele. Ele me tirou um ano de vida! (muitos risos).
O senhor gostava de corrida de carros?
Eu sempre fui contra! Achava que era uma temeridade o Rubinho com 6 anos de idade entrar em uma pista de kart. Mas depois, eu vi que era uma realidade. O menino teria futuro, me abracei ao assunto e dei o meu total apoio, e o Rubinho felizmente despontou. Com o falecimento de Ayrton Senna, o Rubinho passou a ser o nome mais forte da torcida brasileira? Ele não gosta quando falam assim. Houve muita cobrança quando o Ayrton faleceu. O Rubinho deveria ser o representante da torcida brasileira. Só que ele não poderia ser! Naquele momento estava em uma escuderia fraca, na época era a Jordan. Não depende só do piloto. É um complexo muito grande de fatores. Cobraram muito isso dele! Foi desgastante para todos. Mas, felizmente pelo seu talento, ele obteve sucesso. Não se chega a uma Ferrari apenas pelo desejo de entrar na equipe. Quando ele foi contratado pela Ferrari ele tornou-se muito conhecido.
O senhor chegou a ir até a Ferrari?
Fui várias vezes! É indescritível ! Só indo e vendo! Uma passagem interessante, ocorreu agora na despedida do Rubinho. A Ferrari convidou a família para a festa de despedida. Ele ficou durante 6 anos lá, e é muito querido por todos os italianos. Foi uma festa maravilhosa! Em Mugello, Schumacher e Rubinho, mais outros dois carros de corrida na frente, e 47 carros Ferrari de passeio, uma mais linda do que a outra! Novas, antigas, de todo os tipos. Isso foi em um sábado. Na segunda-feira fomos á pista para fazer um passeio na Ferrari. Alargaram uns dois centímetros de cada lado, colocaram um banco a cada lado do piloto, e convidaram a família para andar naquele carro. Eu e meu filho fomos os primeiros juntos. O Rubinho piloto, o pai de um lado e o avô do outro lado. Preocuparam-se muito comigo, porque eu já tinha 77 anos de idade. Pensavam: “Vai dar um treco nesse velho aí” (risos).
A que velocidade o senhor andou?
Eu andei a 270 quilômetros por hora. Os outros, os amigos e meus filhos andaram a 290 quilômetros por hora e 300 quilômetros por hora com dois amigos dele os quais ele desejava assustar! É uma pista com uma curva atrás da outra, fica dentro de Modena. Quando eu entrei a parafernália é a mesma. O momento de colocar o pneu, o momento de tirar a cobertura do pneu, dar a partida, de abaixar o carro, tudo igual! Fica-se meio deitado no carro! A roupa é a mesma. Coloquei a meia, que vem até o joelho, antifogo, depois uma blusa. Eu tinha que segurar o que parecia uma pêra (interruptor de luz, com um botão de pressão no meio), eu tinha que segurar aquilo apertado, caso eu me sentisse mal e desmaiasse, soltaria e ele teria que parar. Na outra mão um botão por nos comunicávamos. Aquilo faz um barulho ensurdecedor! Embora eu estivesse bem protegido. Quando saímos, eu dava risada! Dizia para ele correr: - Pisa! Pisa! Manda o pau! Eu falava e dava risada! Quando chegamos ao final, todos estavam apavorados, tinha helicóptero, ambulância, quando paramos, levantei o dedão e perguntei: E aí só vamos dar duas voltas? (risos) Só eram duas voltas para cada um. Depois andaram a minha nora e a minha neta, meus filhos, e quando acabou o passeio da minha família, foram andar os mecânicos e os engenheiros. Eles não andam naquele carro. Teve um deles, um bem calvo, pode observar na televisão quando for assistir a uma corrida, ele saiu do carro mais branco que um guardanapo! Quando eu desci disse: - Nunca mais vou criticar um piloto que esteja em último lugar. Para entrar nesse carro precisa ter talento de sobra! Não sei como eles conseguem ver! Eu não enxergava a curva, só sabia quando estava na curva quando aquilo freava violentamente, e acelerava de novo. O carro atinge 180 quilômetros por hora nos primeiro 100 metros!
O senhor gosta de velocidade?
Eu estava voltando do sítio, vinha pela Rodovia Ayrton Senna, aonde a velocidade máxima é 120 quilômetros por hora, quando um guarda me parou.Eu percebi então que distraidamente tinha ultrapassado o limite de velocidade permitido. Ele estava com a fisionomia carregada, pediu meus documentos, ele me disse: Ah! Só faltava o senhor! Eu já peguei o Rubinho, o pai do Rubinho, a irmã do Rubinho, só faltava o senhor mesmo! Acabamos batendo um longo papo, ele queria que eu contasse porque o carro do Rubinho não anda!
É uma pergunta que fazem muito?
O Rubinho é o primeiro brasileiro a sentar em uma Ferrari, ficou seis anos na escuderia, é muito estimado por todos da Ferrari. Eu levei o Clube São Caetano para jogar bocha na Europa. Faço parte da Confederação Brasileira de Bocha, Boliche e Bolão. Fui Campeão Brasileiro de Bocha, Campeão Paulista. Meu forte é atirar a bola. Também chamado de atirador, tem o ponteiro, que joga para fazer ponto.Levei a Seleção Brasileira de Bocha para a Itália e Suíça a partir de 1983, todo ano nós íamos para a Europa para disputar bocha. O Brasil e a Argentina estão classificados em terceiro lugar no mundo, em primeiro lugar está Itália, em segundo a Suíça . Fomos jogar em Modena, o pai do Pavarotti veio jogar bocha comigo, ele achava que eu era mais importante do que ele! Eu disse o senhor é o pai do Pavarotti, eu sou avô do Barrichello! O pai do Pavarotti foi um cantor lírico, eu tenho gravação dele.
O pessoal do São Caetano queria ver a Ferrari. Era um dia 10 ou 11 de janeiro, muito frio, chegamos na Ferrari faltavam 15 minutos para abrir a loja e onde ficam os carros expostos. Disseram que estava fechado. Alguém foi lá e disse que o avô do Rubinho estava lá. Imediatamente abriram, entramos e eles fecharam. Todos fotografaram. Ali ficam as lembranças dos pilotos. O macacão do Rubinho está lá, o boné, o carro. Depoimento colhido no site oficial do piloto Rubinho Barrichello: (“Pilotei 6 duros e longos anos pela Ferrari e sou muito grato a eles, pois a equipe me ajudou a conquistar os dois vice-campeonatos, as nove vitórias, os 25 segundos lugares e os 21 terceiros lugares, sem contar as poles e as voltas mais rápidas e os 5 títulos de construtores que eu ajudei, e muito, a conquistar. Aprendi muito com eles e com o Schumacher, e saio da Ferrari muito ansioso pelo futuro”. Fonte: site oficial do piloto Rubens Barrichello).
Qual foi o motivo especial da vinda do senhor para Rio das Pedras?
A secretária do Rubinho disse-me: Seu Rubens, o Dr. Lister Barrichello Tosello, presidente da Mesa Provedora do Hospital São Vicente de Paulo de Rio das Pedras ligou, solicitando um brinde do Rubinho para ser usado na arrecadação de fundos para o Hospital. Eu fiquei tão contente! Disse ao meu filho: - Eu vou levar! E vamos levar um macacão, que irá adquirir um valor maior! Prontamente ele arrumou um macacão do Rubinho, que estava de saída de São Paulo para a Europa, para o Grande Prêmio de Monza. Deu tempo dele autografar o macacão! Eu vim trazer, porque fiquei contente em poder ajudar. Nota: (Essa vinda do avô do Rubinho especialmente para entregar o macacão torna essa peça mais valiosa pela atenção e carinho com que está sendo doada).
Para qual time de futebol o senhor torce?
O meu dentista, a cada vez que eu ia lá, ele começava a falar do Palmeiras certo de que eu era palmeirense. Eu ficava quieto. Até que um dia eu disse-lhe que era corintiano! Foi influencia do meu irmão mais velho o Alcides. O Rubinho também é corintiano.
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