A crise política entre FIA e Fota atingiu um novo patamar nesta terça-feira . Após garantir que vai manter o teto orçamentário de £ 40 milhões para a temporada de 2010, como havia programado no seu regulamento para a próxima temporada, a federação presidida por Max Mosley emitiu um extenso comunicado detalhando o que a levou a tomar suas decisões e explicou o seu lado da história na crise política com as escuderias. De acordo com a entidade, sua intenção é apenas de adequar a F1 às necessidades financeiras atuais do mundo.
A disputa política não mostrou sinais de termino, e a possibilidade de um racha na categoria é bem grande. Agora é torcer para que as duas partes entre um consenso e não cheguem ao fim da formula-1. Em seguida, encontra-se a tradução na integra do documento publicado pela FIA.
A disputa política não mostrou sinais de termino, e a possibilidade de um racha na categoria é bem grande. Agora é torcer para que as duas partes entre um consenso e não cheguem ao fim da formula-1. Em seguida, encontra-se a tradução na integra do documento publicado pela FIA.
Qual o real objetivo dessa disputa? É sobre uma tentativa de algumas equipes de tomar o controle dos direitos comerciais da F-1? Ou tomar a função regulamentar da FIA? Ou, até mesmo, um conflito de personalidades? Existem elementos de todas essas questões, mas o assunto principal é filosófico, e vai para os fundamentos da F-1. É sobre liberdade técnica. É reconhecido pela FIA e por muitas equipes que você pode ter liberdade técnica -a liberdade para inovar - ou você pode ter a liberdade de gastar sem limites. Mas você não pode sustentar ambos.
A lição que surgiu após cinco anos de tentativas para conter os custos de motor foi que as economias verdadeiras só podem ser adquiridas com a remoção da liberdade técnica: o congelamento dos motores. Todas as tentativas para limitar os gastos com restrições técnicas apertadas falharam. Por isso que temos um motor congelado hoje em dia, que deve ser substituído em breve. O consenso é que a substituição deve ter um orçamento _um limite no que pode ser gasto em desenvolvimento, e um limite nos custos de uma unidade, assim como os motores que são desenvolvidos para as ruas. A alternativa seria retornar aos gastos ilimitados pelas montadoras. Isso nunca seria uma medida racional, mas uma insanidade na atual situação.
Se aplicarmos essas lições ao resto de um carro de F-1, podemos ver que as tentativas para tomar as rédeas nos gastos com regras detalhadas não vai funcionar. Elas não funcionaram no motor e não vão funcionar nos chassis. Regras detalhadas asfixiam a inventividade e a inovação. Mas, pior, elas não reduzem os gastos de forma significativa. Assim como os motores congelados, uma real economia só poderá ser feita com um chassi congelado, um grande absurdo.
Desejamos ver uma tecnologia inovadora na F-1, e a única maneira é limitar os gastos e permitir aos engenheiros a liberdade para fazer o melhor trabalho com um orçamento fixado. Isso é exatamente o que acontece no muito real e a única maneira para a F-1 seguir adiante. Sem a inovação técnica, a F-1 vai definhar e morrer. Sem a contenção real de gastos, a F-1 perderá suas equipes. Por isso que a FIA está insistindo nisso como parte das regras.
A última e decisiva vantagem de um regulamento com a contenção de gastos é que isso proverá uma liberdade técnica igual para todos. Com um limite de gastos, a equipe de engenharia mais inovadora e esperta vencerá. Não será possível substituir um orçamento gigante por habilidade intelectual. Em um um campeonato esportivo e tecnológico, este, certamente, é o caminho certo.
A FIA e a FOM, juntas, levaram décadas transformando a F-1 na competição automobilística mais assistida na história.
No vácuo deste sucesso, a Fota feita de participantes que vêm e vão conforme seus interesses, definiram dois objetivos claros: tomar o controle dos regulamentos da F-1 e pegar para si os direitos comerciais. Esses são objetivos que a FIA não pode aceitar.
Quando a Honda anunciou sua retirada da F-1, em dezembro de 2008, eles já haviam entrado na temporada 2009 e estavam comprometidos contratualmente a correr. Duas coisas, então, ficaram claras para a FIA. Primeiro: qualquer uma das montadoras podem parar a qualquer momento, e a FIA não pode entrar com um recurso contra a companhia principal, mas, apenas, contra a equipe, que não tem propriedades nos excessos de suas dívidas; Segundo: era muito possível que outras montadoras saíssem antes de 2010.
A Renault era dependente do governo francês. Parecia duvidoso que o dinheiro dos contribuíntes continuaria sendo usado para contribuir com os altos gastos desta equipe. Já as operações da Toyota enfrentaram sua primeira perda nos tempos modernos, e poderiam não desejar continuar a depositar centenas de milhões em uma equipe de corridas, enquanto a BMW, que fazia sacrifícios em seus negócios para cortar custos, poderia não querer gastar fortemente em sua equipe.
Enfrentando a situação de ter apenas 18 carros em Melbourne, e a possibilidade do pior em 2010, a FIA teve de agir. E dois passos óbvios foram tomados. O primeiro foi se aproximar do Sr. [Luca] di Montezemolo para ver se as montadoras gostariam de garantir a presença de suas equipes em 2010, assim não teríamos a repetição da situação da Honda.
E, em segundo lugar, iniciar as conversas com a Fota para cortar custos até o ponto em que as montadoras não se sintam interessadas em parar, tornar viável a competição para as equipes independentes, e trazer novas equipes para ocuparem os espaços vazios.O Sr. di Montezemolo prometeu assegurar as garantias necessárias das principais montadoras (não confundir isso com as garantias das equipes). Ele continuou prometendo isso durante todo o inverno, e, mais recentemente, no encontro que teve com o presidente da FIA [Max Mosley], no dia 23 de fevereiro de 2009. Nenhuma carta sociável veio, nem mesmo da companhia do Sr. di Montezemolo, a Fiat.
Ao mesmo tempo, a Fota e o Sr. di Montezemolo recusaram todas as tentativas de encontros para discutir a redução dos custos. Não havia necessidade, diziam para a FIA. As medidas próprias da Fota eram adequadas e eles introduziriam um terceiro carro. Em março, ficou claro que a Fota não tinha a intenção de facilitar a entrada de novas equipes. De fato, eles se opuseram.
Também ficou claro que a FIA queria novas equipes em 2010 e teria de publicar as regras; caso contrário, seria muito tarde para uma nova equipe construir um carro. A FIA também teve de considerar qual nível de gastos funcionaria para um time novo e como garantir que ele, com custos limitados, não fosse perigosamente lento.
Isso levou à decisão do Conselho Mundial do dia 17 de março, introduzindo uma regra financeira voluntária e liberdade técnica para as equipes que aderissem, garantindo níveis de performance na F-1. A Ferrari votou contra o regulamento no encontro, mas não contra as liberdades técnicas para as novas equipes (a Ferrari não votou contra o sistema de regulamento duplo).
Mesmo após este voto, a Fota não estava preparada para conversar. Muito menos estava o Sr. di Montezemolo, mesmo que particularmente. Na falta de negociações, ou de nenhum sinal de garantias de participações das companhias, era essencial publicar o regulamento detalhado e convidar novos times. Por outro lado, havia um risco real da falta de carros suficientes para Melbourne em 2010.
O regulamento detalhado foi discutido e votado no encontro de 29 de abril do Conselho Mundial. O novo representante da Ferrari no Conselho era o Sr. di Montezemolo, que substituiu Jean Todt, cujo contrato expirou no dia 31 de março. O Sr. di Montezemolo escolheu não comparecer ao encontro, sendo representado pelo Sr. Luigi Macaluso, presidente do kartismo italiano, que também não apareceu, mas participou através de um link de vídeo. Foi dele um dos dois votos contra as novas regras, com nenhum motivo ou alternativa oferecidos.
A partir de então, uma troca de cartas foi iniciada com o advogado da Ferrari, e um encontro foi marcado entre todos os membros da Fota e o presidente da FIA, em 15 de maio. John Howett (presidente da equipe Toyota), como o vice-presidente da Fota, liderou a delegação na ausência do Sr. di Montezemolo. A partir do momento em que a FIA levantou a questão do regulamento financeiro, o Sr. Howett tentou liderar uma saída dos times. Isso não aconteceu, mas, durante o encontro, ficou claro que a Ferrari iniciou procedimentos emergenciais na corte francesa tentando evitar a introdução do regulamento para 2010. Ficou claro que a Fota não tinha a intenção de negociar nada, mas simplesmente esperava que a FIA concordasse com todas as suas exigências.
Um encontro seguinte foi marcado para o dia 22 de maio, desta vez com a presença do Sr. di Montezemolo. A Fota explicou que tinha três grandes reservas: estabilidade regulamentar, de governo e das regras para 2010, particularmente o sistema de regulamento duplo. Foi explicado que a ajuda técnica das equipes atuais já havia sido substituída para o sistema de regulamento duplo, e isso não era mais um tópico de discussão. E isso foi ressaltado para o Sr. di Montezemolo pelo menos umas cinco vezes durante o encontro, mas ele e a Fota insistem em falar sobre isso até hoje.
A FIA também ofereceu a extensão do Pacto de Concórdia de 1998, que tomaria conta da estabilidade e do controle para um grau que deixasse todos satisfeitos por dez anos, a partir de 2009. A FIA foi solicitada a mudar a data de inscrição. Foi explicado que o Código Esportivo não oferecia tal suspensão e que, em qualquer categoria, os potenciais novos participantes precisariam saber com urgência se eles teriam lugar.
No dia 29 de maio, as oito equipes restantes da Fota solicitaram inscrições condicionais. Dentro das condições estavam um requerimento onde a FIA teria de assinar imediatamente o novo Pacto de Concórdia da Fota (que diluiria o Código Esportivo, criaria uma organização fora, o CAS, que permitiria a qualquer equipe vetar as mudanças de regras e removeria o direito da FIA de insistir em mudanças, se os carros ficassem perigosamente rápidos). A Fota também cancelou as referências ao Código Esportivo Internacional em seus formulários de inscrição, e queriam as regras de 2010 rescindidas, não obstantes do fato de que um número de novas equipes já haviam se inscrito.
Um outro encontro foi realizado no dia 11 de junho, quando a Fota foi representada por Ross Brawn (Brawn), Stefano Domenicali (Ferrari), Christian Horner (Red Bull) e John Howett (Toyota). Após quase cinco horas de conversas, foi acordado que os objetivos da Fota e da FIA na redução dos custos eram muito próximos, se não idênticos, e que os especialistas financeiros de ambos os lados deveriam se encontrar sem atraso para procurar uma posição em comum. Além disso, a proposta da FIA de prorrogar o Pacto de Concórdia de 1998, para evitar negociações intermináveis, foi bem recebida. O acordo também foi atingido em pequenas modificações e esclarecimentos para as regras de 2010.
Logo após tudo isso ser concordado, a Fota divulgou um comunicado dizendo que nenhuma evolução foi feita no encontro. Esta falsidade grosseira demonstra novamente que os elementos da Fota não querem um acordo.
No dia 15 de junho, o encontro dos especialistas financeiros aconteceu. Contudo, os representantes da Fota estavam proibidos de discutir os regulamentos financeiros da FIA, fazendo com que fosse impossível atingir uma posição em comum. O encontro examinou as ideias da Fota na redução dos custos, mas, como foi apresentado, seria apenas um sistema voluntário, incapaz de limitar os gastos de uma equipe que tem os recursos para superar seus competidores.
A Fota diz que "o esporte precisa de um melhor controle". A FIA e a Ferrari extenderam o Pacto de Concórdia de 1998 em 2005, e a FIA está preparada para fazer o mesmo com todas as equipes que entrarem. Uma vez dito isso, a FIA e as equipes podem analisar uma atualização para uma versão 2009. Mas este não é o ponto. A F-1 precisa de um regulador forte e imparcial, por causa da natureza do esporte e dos competidores pessoas que querem vencer (literalmente) a qualquer custo. Existem diversos exemplos conhecidos disso envolvendo pelo menos quatro membros da Fota nos últimos anos.
Bom controle não significa que a Ferrari deve governar. A Ferrari agora alega que os procedimentos da FIA são contrários ao acordo que ela tem com a entidade, mas, na realidade, eles nunca se opuseram a estes procedimentos (eles votaram por eles). A Ferrari esteve oficialmente (assim como não-oficialmente) representada no Conselho desde 1981 e nunca se opôs às decisões até abril e maio deste ano.
A Fota diz que "as novas regras são ruins para o esporte". Mentira, já que o regulamento de 2009 introduziu grande liberdade técnica em diversas áreas. As regras de 2010 permitirão ainda mais liberdade. Compare isso com a proposta da Fota: nada de testes, de Kers, caixa de câmbio homologada, carenagem homologada, limitações nas atividades de fábrica, fechamento forçado e por aí vai. Ao invés de encontrar maneiras econômicas de inovar (o que é o espírito da F-1 e o desafio da indústria automotiva), as propostas da Fota obrigariam uma restrição nas atividades e minimizariam o desafio técnico. Quando a Brawn e outras equipes apareceram com a ideia do difusor duplo, as outras equipes atacaram-os na mídia, desafiando-os na frente dos comissários em dois encontros, e, depois, levaram-os aos tribunais. A FIA quer garantir que a F-1 é a categoria mais desafiadora tecnologicamente e restricões financeiras tornarão isso possível.
A Fota diz que "dois tipos de regras arruinarão o esporte". O regulamento de 2010 foi estruturado para permitir aos novos times vantagens técnicas para permitir que eles entrem no grid. A intenção original era não ter as equipes de 2009 correndo sob essas condições. O interessante é que, para diversas das equipes atuais, a ideia de uma grande liberdade técnica com restrições técnicas era muito atraente. Pelo menos metade das equipes atuais se adaptariam. Foi confirmado que teria apenas um tipo de regras, isso foi reafirmado em Mônaco e, novamente, na última quinta. Agora que as novas equipes foram definidas, um tipo de regulamento pode ser acordado.
A Fota diz que "a FIA será capaz de se intrometer em nossos negócios", sobre a proposta da FIA de regular a quantidade de dinheiro gasto. Não há a intenção de trapacear. O regulamento não deve ser uma ameaça. A FIA já regula cada aspecto da performance técnica e os acordos com uma vasta quantidade de propriedade técnica confidencial sem parcialidade ou "interferência". De qualquer forma, a FIA já concordou que o regulamento financeiro será administrado primeiramente perlas próprias equipes, através de auditores e diretores.
A Fota diz que "um teto orçamentário danificará o DNA da F-1". Colocar um limite nos gastos de certos aspectos da competição na F-1 iguala o grid. A F-1 não é sobre competição? Isso permite a entrada de novas equipes _a única equipe nova da F-1 nos últimos anos foi a Super Aguri, que não conseguiu sobreviver sem o apoio de uma montadora. Mas, quando você analisar o custo total para um construtor, ele será desconfortavelmente alto, mesmo com um teto de 50 milhões de euros. Pegue a Ferrari: com € 50 milhões no chassi e na corrida, adicione o mesmo para os pilotos, cerca de € 80 milhões para os motores e mais € 20 milhões para o marketing, e você terá gasto € 200 milhões. Talvez seja menos que os € 400 a € 500 milhões que seus advogados dissseram sobre os gastos de uma equipe de ponta, mas, certamente, é o suficiente para uma equipe gastar na entrada de dois carros em um ano.
A FIA permanece comprometida em encontrar soluções para a F-1 e sempre está pronta para aceitar compromissos consideráveis enquanto mantém o princípio geral de que continuará a liderar e regulamentar o esporte para o benefício de todos seus acionistas. A F-1 terá um grid completo em 2010 com um único tipo de regras. É essencial que isso inclua regras financeiras claras e precisas."
fonte:grande premio, globo, uol
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