O grande premio fez essa entrevista com o piloto de testes da Lotus , bem legal fala das expectativa desse jovem brasileiro
P: Um piloto sem patrocínio, mesmo que talentoso, tem espaço na Fórmula 1 hoje em dia?
Razia: Não. Não tem espaço nenhum, em nenhuma equipe. Até o Alonso levou o Santander para a Ferrari. O talento conta muito, porque para chegar nas categorias superiores ou para conseguir bons resultados, você precisa treinar e se empenhar ao máximo, mas hoje em dia o dinheiro na Fórmula 1 está valendo mais do que qualquer coisa, infelizmente.
P: Sua meta é a de chegar quando a piloto titular na Fórmula 1?
Razia: Meu desejo era estar em 2010, depois 2011, agora é 2012 (risos).
P: A preferência será dada para a Team Lotus?
Razia: Seria ótimo ficar na Team Lotus, porque o pessoal é muito ligado, é uma equipe que te abraça. Estou muito bem ali dentro e gostaria de correr para eles. São muito acessíveis.
P: Como é se dividir entre pilotar na GP2 e ser piloto reserva da Fórmula 1?
Razia: Exige muito empenho. Nos finais de semana que tem as duas é bastante corrido, porque tenho de participar das reuniões da Team Lotus para acompanhar o que eles estão fazendo e também fazer meu trabalho na GP2, que é correr. O tempo é curto, e quando estou em casa as atividades são divididas entre academia e a equipe, com simulador, engenharia, esse tipo de coisa. Você se empenha tanto no fim de semana que, quando está em casa, quer relaxar um pouco também. A gente viaja bastante, são 19 corridas no ano, e você tem de manter seu físico sempre em dia.
P: Qual é a importância da preparação física?
Razia: É o que mais pesa. Isso inclui a alimentação também. É importante, se você está bem fisicamente, psicologicamente você também fica mais motivado, e você vai estar mais lúcido durante a corrida, sua concentração vai durar por mais tempo.
P: Qual é o papel da GP2 no processo de transição de um piloto para a Fórmula 1? É uma etapa a ser vencida ou é lá onde o piloto aprende e se molda?
Razia: Você está sempre aprendendo. Acho que até hoje o Barrichello aprende (risos). A GP2 forma muitos pilotos para a Fórmula 1, mas não necessariamente é a única. Tem outras categorias que levam direto para lá. É uma categoria que virou muito vitrine, porque está junto da Fórmula 1, e porque o carro é competitivo. A gente fica só a 2s das equipes mais lentas da Fórmula 1. É uma das melhores categorias para você se formar e obter o maior número possível de informação e técnica. Mas é muito cara. Só quem tem condições pode participar.
P: Qual das duas categorias hoje exige mais de você?
Razia: Com certeza a GP2. É uma categoria muito difícil, muito competitiva. A gente tem só meia hora de treino antes da classificação. Essa parte é importante, porque a gente tem que conseguir o máximo possível de informação do carro e dos pneus para a equipe entender o que está acontecendo no final de semana. E, quando chega a classificação, você tem de botar tudo junto naquela meia hora. São 26 carros e é diferente da Fórmula 1, que tem Q1, Q2 e Q3. A gente pega muito tráfego. É muito difícil achar uma volta, mas é assim para todo mundo. Realmente na GP2 me empenho mais, mas quando fiz a sexta-feira na F1 (na China) também foi bastante intenso.
P: Já está definido onde serão seus outros três testes da temporada?
Razia: A gente pode escolher. Depois de Monza, vamos escolher. Mas São Paulo já está certo.
P: É você que vai escolher?
Razia: Eu e a equipe. Por exemplo, no Canadá foi melhor não porque a pista é muito suja, rugosa, então era importante que os pilotos se acostumassem a ela. Se eu tirasse tempo dos pilotos, ia prejudicar o fim de semana deles.
P: Como foi o retorno da equipe depois do teste na China?
Razia: Minha sessão foi complicada, porque saí para fazer a volta de instalação, voltei e saí de novo, fiz quatro voltas e o carro quebrou. Então, não tive oportunidade de andar muito no carro. Depois, falei da minha parte, o que aconteceu, e eles mostraram a minha comparação com o Kovalainen. Tinha sido grande a diferença, porque tinha feito quatro voltas e ele tinha feito 30. Ali vi onde estava perdendo e tudo o mais, mas obviamente todo mundo sabia que faltava tempo no carro.
P: Qual foi sua sensação após o treino?
Razia: Foi um pouco frustrante. Gostaria de ter feito um trabalho melhor e não tive oportunidade, não tive tempo no carro e também só depois que foi explicado que a suspensão quebrou. A equipe não queria falar muito que a suspensão quebrou, porque é aquela questão: se não foi erro meu, foi erro da equipe. Eu falei “gente, vocês têm que falar que a suspensão quebrou, não foi culpa minha”. E eles não queriam divulgar a informação de que quebrou, porque é ruim para a equipe quando a peça quebra. Eles disseram que foi uma falha na suspensão e ponto. É difícil.
P: Como você avalia o impacto do KERS, da asa móvel e dos pneus com alto desgaste na temporada?
Razia: Eu acho que o KERS é muito positivo, até pelo papo de desenvolvimento de carros de rua. Recuperação de energia é uma das coisas em que a Fórmula 1 deveria investir mais. Com os pneus, acho que agora a Pirelli trouxe dois compostos para Canadá e Mônaco que foram positivos (macios e supermacios). Acho que essa é a fórmula que eles deviam seguir para os outros tipos de compostos, porque os outros tornaram as corridas muito artificiais. A gente viu o Alonso liderando dez voltas em Barcelona e depois de 50 voltas virando retardatário, em quinto. Então ficou bem artificial. Alguns carros conseguiram trabalhar com pneus, outros não. Então acho que foi positivo os pneus Pirelli, com certeza foi uma coisa positiva, mas é uma situação muito difícil para as equipes. Para o público é legal, mas para as equipes exige muito empenho. Quanto à asa móvel, acho que foi uma medida que eles tinham que tomar para acabar com pressões por ultrapassagem, mas agora todo mundo fala que é muito fácil ultrapassar. É difícil agradar a todos. Acho que foi uma decisão que eles tomaram pela pressão do público e até das equipes, para poder ultrapassar, e que está funcionando.
P: Particularmente, você acha que as ultrapassagens ficaram muito fáceis?
Razia: Acho que algumas vezes fica muito fácil. Mas torna a corrida mais interessante. Se você está sendo ultrapassado é ruim, mas, se você está ultrapassando, pensa “agora minha corrida vai melhorar”.
P: O que achou do desempenho de Lewis Hamilton em Mônaco e no Canadá?
Razia: Acho ele é um grande piloto, foi campeão mundial. A McLaren neste ano é a única que pode bater a Red Bull. Em algumas vezes ele forçou, como em Mônaco, e no Canadá infelizmente não pôde voltar para a corrida. Mas não acho que isso tenha a ver com a fase dele, é o seu jeito normal, e quando você está um pouco mais atrás e tem de ultrapassar, acontece de bater, e aconteceu casualmente de serem duas vezes seguidas. Mas, se você for ver anteriormente, isso não estava acontecendo. Ele foi o único que ganhou do Vettel antes do Canadá. Acho que na próxima corrida ele virá forte.
P: Você gosta da postura agressiva dele na pista?
Razia: Dentro do limite das regras, gosto. Eu acho que é a melhor coisa. O ataque é a melhor defesa.
P: Na polêmica envolvendo Felipe Massa e Narain Karthikeyan no GP do Canadá, você vê algum culpado?
Razia: Karthikeyan errou a curva, passou reto na grama e, quando voltou para a pista, estava tentando controlar o carro dele e o Massa estava vindo. Talvez o Karthikeyan não tenha visto o Massa vindo. O Massa teve de sair do trilho seco e foi pro molhado. E no molhado o pneu slick patina muito. Na hora que ele foi desviar, bateu. Foi uma situação difícil para os dois pilotos, e é difícil pra mim também julgar quem está certo e quem está errado. Mas acho que nessas situações você tem de tomar cuidado com um carro mais lento na pista, mas o carro mais lento também tem que abrir espaço para quem está chegando.
P: Como você vê a relação do público brasileiro com os pilotos? Acha que a carência de títulos depois do Senna atrapalha?
Razia: Acho que foi muito ruim o que aconteceu com o Massa em 2008, quando ele não ganhou o campeonato. Ele devia ter ganhado aquele campeonato. Seria um novo campeão brasileiro. Eu sinto pelo Massa, porque ele merecia ter ganhado naquele ano. Mas ainda vai chegar outro piloto que vai ter a oportunidade e vai conseguir. Demorou muito para um alemão conseguir um título, aí chegou o Schumacher, fez aquilo tudo e você vê agora a quantidade de alemães na Fórmula 1. São fases. A gente vai ter que segurar a onda e tentar, tentar, tentar até conseguir.
P: Felipe Massa e Rubens Barrichello são bons modelos para sua geração?
Razia: São sim. Pilotos extremamente profissionais. O Massa, comparando com o Alonso, que é considerado o melhor piloto por muitos, está sempre andando junto. Os dois pilotos que a gente tem são excepcionais. A gente tem também outros pilotos crescendo, sendo preparados para entrar na Fórmula 1.
P: Como é o seu relacionamento pessoal com eles?
Razia: O Rubinho é ótimo. O Massa também é gente boa, a gente conversa quando temos um tempo mais livre. A gente fala sobre todo tipo de assunto, não só sobre Fórmula 1, até porque eles devem estar de saco cheio de falar só sobre F1.
P: Dos pilotos de hoje, tem algum mais talentoso no geral?
Razia: Mais talentoso eu diria que não, mas mais preparado. E a experiência conta muito hoje em dia. O Alonso começou na Fórmula 1 em 2001. O Schumacher começou em 1991. Essa experiência conta muito. É difícil comparar um piloto que chegou agora com esses. Mas acho o Alonso um piloto muito bem preparado. Massa é um baita piloto também. Ele está sendo subestimado, mas também é muito bom. E tem Vettel, Hamilton, Schumacher, Rosberg. O grid está cheio de pilotos top, que se tiverem um carro bom na mão vão ser campeões.
P: E qual sua opinião sobre os titulares da Team Lotus, Jarno Trulli e Heikki Kovalainen?
Razia: O Kovalainen está melhor do que o Trulli este ano. Os pneus se adaptaram melhor ao estilo dele. A gente teve uma pré-temporada muito ruim, com pouco treino, e inclusive o Trulli teve uma pré-temporada muito menor, o que prejudicou ele também. Neste início de temporada o carro teve alguns probleminhas também, agora que o carro está bom. O Trulli demorou para pegar o carro, mas agora ele está mais confortável com a aerodinâmica, com os freios e também com os pneus. Mas o Trulli no ano passado foi muito melhor que o Kovalainen também.
P: A relação pessoal com eles é boa? E com o restante da equipe?
Razia: Eu me identifico mais com o Trulli, até porque falo italiano, morei na Itália, então a gente se fala bem mais do que com o Kovalainen. Mas em termos de tratamento, a equipe trata todo mundo como se fosse empregado, estão ali para trabalhar, é aquela relação trabalhista, sem nenhum tipo de entrosamento.
P: A Team Lotus disputa neste momento um campeonato particular, abaixo das equipes médias, mas já acima das pequenas. Você acha que é um bom momento para estar na equipe?
Razia: Sim. A equipe está com vontade de crescer. Eles fecharam dois novos patrocínios, inclusive para produzir o KERS, e estão juntando parceiros em todos os campos. O Tony Fernandes é uma pessoa muito inteligente e que gosta muito do que faz, que se relaciona com a equipe, e que quer que a equipe cresça. Conversa sempre com os pilotos, é uma pessoa ótima pro time. E as pessoas que estão envolvidas também são ótimas, têm um histórico muito bom. Estão cobrindo as lacunas que faltavam para a equipe ter um carro competitivo. Fecharam parceria com o túnel de vento da Williams agora. É difícil você chegar e em dois anos vencer corridas. E é difícil construir um carro com pouco dinheiro. É difícil para o Adrian Newey (projetista da Red Bull) pegar 40 milhões e fazer um carro que ganhe corridas. Estão procurando alguém que, com bom custo benefício, consiga fazer um carro bom.
p: Neste ano ainda dá pra tirar mais desempenho do carro?
Razia: Com certeza. A gente vai ter mais atualizações antes de Monza, e se dali a gente tiver um bom rendimento para fazer pontos, vamos continuar desenvolvendo. Se não, vamos parar e começar a pensar em 2012.
p: É possível que a Team Lotus passe a se classificar para o Q2 com frequência?
Razia: A gente chegou uma vez, que foi em Barcelona. Mas todo mundo está melhorando, todo mundo investe. Em Barcelona a gente estava no Q2, em Mônaco ficamos a três décimos, e no Canadá a meio segundo. Como não atualizamos, perdemos meio segundo. É difícil acompanhar o ritmo da F1.