Para quem quizer perder um pouco do seu tempo vale apena, tem tempos que não temos textos de boa qualidade na midia brasileira especializada.
Pé frio é uma expressão usada para se referir a quem tem azar. Pois é, tive o azar de ir literalmente com o pé frio nesta sexta-feira (19) para o circuito de Jerez de la Frontera. Literalmente mesmo. Fui trabalhar com o tênis molhado e gelado, porque tomei muita chuva na noite de quinta e não deu tempo de o tênis secar até a manhã de sexta.Caiu o mundo na noite de quinta em Jerez.
A zona rural daqui da cidade espanhola ficou alagada, e uma estrada que tenho usado para chegar ao circuito até ficou interditada. E com o meu tênis molhado pela chuva da noite anterior, fui pra pista por outro caminho, vendo dois lagos provisórios ao lado da rodovia enquanto eu enfrentava o trânsito.E pé gelado é uma coisa que incomoda. Não é igual a um probleminha que você esquece quando se ocupa com alguma coisa, ou que pensa “quando casar sara” que daí fica tudo bem. Você fica lembrando do pé frio, da meia molhada, não importa o que está fazendo.Mas para a minha sorte, quem estava escondido há um bom tempo por aqui resolveu aparecer para esquentar o meu pé: o sol.
O dia amanheceu bonito e o sol brilhou quase o tempo todo, esquentando o ambiente e agradando aos pilotos e a todos que estavam no autódromo. Quem foi pra pista pôde aproveitar o asfalto que ficava mais seco a cada minuto, o que facilitou o trabalho das equipes em encontrar os acertos dos carros.
Os pilotos com quem conversei depois do treino mostraram essa mesma satisfação com o clima que brindou a cidade na sexta. Button, Kubica, Kobayashi e Webber ficaram felizes com o sol que esquentou e secou meu gelado tênis. Mas muito mais interessante do que perceber a presença do sol que secou a água dos meus calçados, foi perceber a presença de pais dos pilotos acompanhando de perto o trabalho de seus filhos aqui na ensolarada cidade espanhola.
Quando a gente assiste a F1 pela televisão, é comum vermos frequentemente os pais de Lewis Hamilton e de Felipe Massa nos autódromos onde os filhos estão. Anthony Hamilton e Titônio Massa sempre são vistos nos boxes da McLaren e da Ferrari. Estão sempre próximos às crias.
Quando a gente assiste a F1 pela televisão, é comum vermos frequentemente os pais de Lewis Hamilton e de Felipe Massa nos autódromos onde os filhos estão. Anthony Hamilton e Titônio Massa sempre são vistos nos boxes da McLaren e da Ferrari. Estão sempre próximos às crias.
Não vi nenhum dos dois por aqui, nem sei se estão. Mas outros dois me chamaram a atenção. Um deles é o pai de Vitaly Petrov, com quem conversei ontem e que me afirmou que realmente pegou um empréstimo de € 7,5 milhões em um banco para poder financiar a entrada do filho na F1. € 7,5 milhões emprestados, isso é que é amor ao filho.
E o russo acompanha de perto sua cria. Esteve novamente durante o dia todo por aqui, na sala de imprensa para ver os tempos dos demais pilotos em comparação com os de Vitaly, nos boxes da Renault para acompanhar o trabalho do filhão, e também andando de um lado para o outro falando ao telefone, talvez para resolver de onde vai tirar dinheiro para pagar o empréstimo no futuro.
Mas já falei demais dos russos. O paizão da vez foi um sujeito bem humorado chamado John Button. É o pai do atual campeão da categoria, o Jenson Button, que vai competir em 2010 pela McLaren após ter vencido o campeonato pela Brawn no ano passado.
Eu já havia visto John andando por aqui, mas sempre de longe. E já tinha ouvido falar que ele era um sujeito gente fina, sempre sorridente, mas ainda não havia conseguido me aproximar do rapaz em nenhum momento. Após o treino, com o pé já seco com a ajuda de São Pedro, eu já não tinha mais o pé frio. E aí tive sorte. Quando entrei nas instalações da McLaren para a entrevista coletiva de Button, lá estava John, adiantado como eu.
Como ainda havia uns minutinhos antes de a coletiva começar, logo perguntei a ele se eu poderia entrevistá-lo. Ele disse educadamente que não poderia gravar nenhuma entrevista. “Então mesmo sem gravar, posso fazer uma pergunta ao senhor?”, perguntei, mostrando que o gravador estava desligado. Ele se aproximou com o seu café e me disse sorrindo que sim. “Muita coisa deve ter mudado na vida de seu filho depois que ele se tornou campeão mundial. Mas o que mudou na sua?”.
E aí ele me explicou que naturalmente ele estava extremamente feliz, mas que nada havia mudado porque ainda não havia caído a ficha. Me disse que nada muda da noite para o dia, e que tudo ainda era muito recente e fresco na memória. Mas garantiu que ao longo da temporada, quando voltar a ver o filhão disputando corridas, vai se orgulhar ainda mais ao saber que Jenson já é campeão, com um filho consagrado, e que isso poderia mudar algo em sua percepção.
Depois de ouvir John orgulhoso sobre sua cria, pedi para tirar uma foto. E aí ele fez uma brincadeira que qualquer tiozão bem humorado faria. “Espera aí então, deixa eu ficar bonitão”. Começou a pentear o cabelo fingindo que estava olhando em um espelho e depois disse “pronto, pode tirar”.
Rindo, tirei a foto e fiz mais uma pergunta. “O senhor me autoriza a utilizar isso que me disse se eu for escrever algo?”. “Lógico que sim, meu jovem, sem problema nenhum”, me respondeu. E no caminho de volta à sala de imprensa, depois de falar com o pai de Button e com o próprio piloto, fiquei matutando sobre a presença dos pais aqui nas atividades da categoria.
Seus filhos, na maioria das vezes, já estão estabilizados no esporte, ganhando milhões e com uma situação financeira que provavelmente os pais jamais tiveram. Mas eles estão sempre lá, cuidando, dando conselhos e acompanhando os passos até em treino. Se meu nome fosse Sigmund Freud, talvez explicasse melhor o fato. Mas como não é, fica só no pensamento raso, mesmo.
Marcelo Ferronato/Grande Prêmio
Sorte na cobertura em Jerez só acaba com azar por não encontrar lotérica
Se eu tivesse jogado na loteria nesta quinta, eu ganharia com certeza. “Mas por que você não jogou então, seu burro?”, me perguntaria alguém. Porque eu não tive tempo. Juro que se eu tivesse, eu jogaria. Do comecinho até o fim do dia, a sorte estava do meu lado aqui em Jerez de la Frontera.No jornalismo, além de ficar ligado em tudo o que acontece do seu lado, é muito importante que você tenha sorte.
E ela fez com que meu trabalho fosse muito mais produtivo.Ao sair da sala de imprensa pela primeira vez, vi o Sebastian Vettel andando pelas instalações da Red Bull. Perguntei se ele poderia conversar comigo, mas ele negou, dizendo que estava muito ocupado. Com o companheiro do alemão foi a mesma coisa. Mark Webber negou uma pequena conversa. “Essa gente, viu, sempre ocupada”, pensei, já achando que eu não veria os pilotos dando sopa de novo.
E voltei para o computador para acompanhar as primeiras voltas dos pilotos na pista, que ainda estava um pouco úmida por causa da chuva chata de quarta. Mas ela foi secando com o brilho do sol que esquentava a cidade. E aí percebemos que o carro da Virgin guiado por Timo Glock estava com problemas, e lá fui eu nas instalações da equipe para ver o que estava acontecendo.Fui crente que teria que conversar com mil mecânicos até que alguém me explicasse o problema. Mas assim que cheguei, o Glock saiu da garagem para ir em direção a algum outro lugar. E eu estava a poucos centímetros da porta da garagem quando ele saiu. Foi inevitável a conversa.
Gravei tudo e estava voltando feliz pra sala de imprensa para mandar pro pessoal a informação retirada direto da fonte.Eu sempre ando passando por entre os caminhões das equipes, porque se alguém for aparecer, é ali. E nesse meu breve caminho de volta, quem me aparece de novo foi o Vettel. Pedi pra conversar com ele.
“Quanto tempo você precisa?”, ele perguntou. “Dois minutinhos, só”, respondi. “Agora não dá, mas espera aí que jajá eu volto.”“Nossa, o cara nega dois minutinhos e ainda dá uma de joão-sem-braço, pedindo pra eu esperar. Acha que eu tenho o dia todo?”, pensei. Mas fui maldoso. Nem cinco minutos depois, o Vettel saiu do caminhão onde estava e me atendeu.
Foi uma conversa legal e rendeu uma matéria boa com um dos candidatos ao título deste ano.Como as pessoas na Alemanha chamam o piloto de “Baby Schumi”, já que ele conseguiu ótimos resultados tendo apenas 22 anos de idade, eu queria saber como ele se sentia agora que vai competir com o “Papa Schumi”. E como eu usei esses termos, ele riu e respondeu com bom humor, apesar de já ter dito que não gosta muito dessa comparação com o veterano.
Mais feliz ainda com as duas entrevistas que consegui, voltei pra sala de imprensa e continuei acompanhando os treinos por bastante tempo. Os carros aproveitaram mais a pista na quinta do que na quarta, já que as temperaturas eram mais altas e não havia mais água no asfalto, então havia mais informações para passar em tempo real para o Brasil.Já eram 14h, e a fome começou a apertar.
E como alguns dos pilotos estavam matando a fome nesse exato momento, havia menos carros na pista. Aproveitando a brecha, fiz uma pequena pausa pra almoçar. Mas não almocei. No caminho até a tenda onde como geralmente, a da Sauber, vi um alvoroço nas instalações da Ferrari. Era o Alonso, que havia acabado de entrar onde os integrantes da Ferrari comem por aqui.E enquanto eu esperava com os muitos fotógrafos, jornalistas e fãs pela aparição do espanhol, fiquei sabendo que o novo capacete do Lucas Di Grassi estava exposto ali do lado. “Será que dá tempo de ir tirar uma foto rapidinho?”, pensei.
E cansado de esperar pelo Alonso, que não saía da toca, fui atrás do capacete. A assessora da Virgin estava acabando de tirá-lo de exposição, mas atendeu ao meu pedido e o deixou lá por mais um minuto para que eu tirasse fotos. E assim que eu terminei, o Lucas Di Grassi apareceu por ali. Também foi inevitável uma conversa.
Ele me explicou o porquê daquele desenho — cores do Brasil com detalhes em preto, que é a cor de seu time — e também falou que alguns problemas com o carro já eram esperados pelos integrantes de sua equipe, uma das novatas na temporada.Esquecendo a fome, voltei para onde a muvuca esperava o Alonso, e assim que eu cheguei, a porta se abriu. E aí começou o alvoroço. No meio dos muitos fotógrafos e fãs, não deu pra perceber quem era, mas eu logo concluí que era o espanhol. Não era, mas pra minha sorte, era o Felipe Massa.Os pilotos da Ferrari geralmente não falam com a imprensa fora dos horários determinados pela equipe.
E seguindo a regra, Massa apenas deu atenção aos fãs, tirando fotos e dando autógrafos. Quando ele entrava em uma área restrita do time italiano, chamei o piloto, e ele reconheceu alguém que falava português.Ele se virou e deu um joinha para a galera do Grande Prêmio, e quando perguntei como estava sua motivação para guiar o carro na sexta-feira, ele disse: “Está boa, e tomara que não chova, né?”, apontando para o céu azul. E ele se foi. Logo após aconteceu o mesmo com o Alonso. Saiu, deu atenção a alguns fãs e se foi.
E esquecendo o almoço, voltei para o meu computador para passar tudo aos ligadíssimos repórteres do site, e voltei a acompanhar as atividades da pista. Já eram 16h, e nada de comida. Quando tive um tempinho, desci de novo para ver se havia algum almoço ainda em alguma das tendas. Nada. Tudo desmontado já. Mas para a minha sorte, o pessoal da Red Bull ainda estava na sobremesa.
E essa foi minha refeição, um pedaço de bolo de chocolate.Voltei para a sala e acompanhava os instantes finais do treino quando a internet caiu. É impressionante o sentimento de impotência de quem trabalha na frente do computador quando isso acontece. Fiquei órfão, não tinha o que fazer. E aí foi legal observar como os jornalistas dependentes da internet reagiam. Uns assobiando e olhando pro nada, outros com a mão na testa, outros conversando com quem estava ao lado, e alguns como eu, ligando pro chefe e explicando o motivo do desaparecimento.E nessa agonia da desconexão, o treino chegou ao fim, e desci para caçar os pilotos que acabavam de sair dos carros. E como a maioria fala com a imprensa ao mesmo tempo, mas em lugares diferentes, tive que escolher quem eu iria ouvir.
Escolhi o Schumacher, e dei sorte de novo. Quando eu cheguei, tinha ainda um espaço para uma pessoa para eu ficar grudado na fita de proteção que separa o piloto dos jornalistas. E fiquei a poucos centímetros da fuça dele.Mas como apenas os repórteres de TV fizeram perguntas ao alemão, eu não perguntei nada para ele, ainda. Mas a proximidade rendeu fotos muito boas, e voltei para a sala de imprensa pra passar a gravação, as fotos e algumas informações para o pessoal do site.
E depois voltei para o meio dos caminhões para ir à coletiva de Kamui Kobayashi, que foi o mais rápido do dia. E de novo a sorte estava comigo. A coletiva parecia mais com uma entrevista exclusiva. Uma emissora de TV o entrevistou e depois foi aberto espaço para jornalistas de outros meios. E só tinha eu lá. Havia também outro japonês gravando a entrevista, e suponho que era um dos assessores do piloto, já que o rapaz não fez nenhuma pergunta.
E no meio da conversa que eu tinha com o piloto de 23 anos, chegou outro jornalista, e ficamos conversando nós três. Como o piloto ainda é novato na categoria e é muito espontâneo, ele não demonstra vaidade nenhuma no discurso.
A conversa flui de maneira natural, como um bate-papo mesmo.Voltei ao computador com outra matéria legal em mãos. Depois de escrever algumas coisas com o pessoal do site, já era noite e o pedaço de bolo de chocolate que eu havia comido já estava distante na memória.
Fiquei sabendo que era possível jantar no motorhome da Red Bull. Mas já eram 21h, e eu achava que a boca livre já tinha sido encerrada. Desliguei minhas coisas e fechei o expediente, achando que iria ter que comprar algo pra comer no caminho de volta para o hotel, sem restaurante.Mas quando desci com a minha mochila nas costas, vi que a mocinha da Red Bull avisava aos jornalistas plantados ali que já era possível entrar e comer.
Fiquei sabendo que era possível jantar no motorhome da Red Bull. Mas já eram 21h, e eu achava que a boca livre já tinha sido encerrada. Desliguei minhas coisas e fechei o expediente, achando que iria ter que comprar algo pra comer no caminho de volta para o hotel, sem restaurante.Mas quando desci com a minha mochila nas costas, vi que a mocinha da Red Bull avisava aos jornalistas plantados ali que já era possível entrar e comer.
Cheguei na hora exata. Se fosse um segundo antes, eu acharia que as pessoas que esperavam ali do lado de fora só estavam conversando após uma refeição. Se fosse um segundo depois, eu não veria ninguém por ali, concluindo que a janta já era.E logo depois que eu consegui me servir, a mocinha chegou e começou a retirar a refeição que já estava se acabando.
Até nisso a sorte ajudou. Se eu achasse uma casa lotérica no caminho de volta depois do jantar, apenas um bilhete seria necessário para que eu estivesse milionário neste exato momento.
quem quiser confir o texto original e dar uma olhadinha em uns mais é so dar uma clicada aqui. Boa Leitura.
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